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Tem creators demais na creator economy?

Sumário

Em 1971, Paul McCartney lançou a icônica canção “Too Many People” no álbum “Ram”. Nessa canção, ainda que de forma velada, Paul apontou para quantidade exagerada de pessoas fazendo coisas que não as levam a nada.

Importante: a intenção particular da música era criticar as atividades de John e Yoko, mas isso é assunto para outra história.

Mais de 50 anos depois, ainda continuamos com pessoas demais, fazendo coisas demais. No nosso mundo de criador, ainda é mais acentuado. E não sou eu que estou falando.

O portal Digiday tem um projeto que dá espaço a creators e agentes da creator economy que relatam anonimamente o que pensam de suas carreiras e do setor onde atuam.

No final do mês passado, um dos textos trouxe a mensagem “‘There are too many creators’: Confessions of a creator going back to a 9-to-5 for the stability” (“Há muitos criadores”: Confissões de um criador que voltou a trabalhar das 9 às 5 em busca de estabilidade).

Diante da leitura dessa confissão, achamos pertinente refletir sobre algumas “promessas” da carreira e, principalmente, antecipar alguns percalços do mundo da criação de conteúdo.

Antes que essa percepção se acumule e se transforme em desespero ou posts exagerados no LinkedIn, vamos (re)pensar onde estamos e para onde nossas decisões estão nos levando. Venha ler e debater comigo.

Contexto e carreira

O caso real abaixo trata de um criador de conteúdo de lifestyle que vive no Brooklyn, em Nova York e que tem cerca de 30 anos. O ponto que faz essa história ser tema de debate é que esse creator está em busca de um emprego em tempo integral, mesmo sendo alguém que já faturou seis dígitos com parcerias (estamos falando em dólares!) e ter experiência profissional com marketing e mídia digital.

Criador de conteúdo em tempo integral, de 2013 até o final de 2021, ganhando mais de US$ 200.000 por ano (na cotação atual isso daria mais de R$1.100.000,00), ele conta que percebeu a primeira mudança nos orçamentos de campanhas por volta de 2021, e por isso decidiu que precisa sair dessa situação. Ele utiliza o termo “Got to get out of here” (dar o fora daqui).

Queda nos rendimentos

Já as receitas começaram a cair em 2022. O creator disse que já havia pessoas comentando que não conseguiam pagar o aluguel e precisavam fazer um financiamento coletivo para isso. Ele saiu antes que chegasse a esse ponto, porque o retorno sobre investimento (ROI) dos criadores mudou, assim como os orçamentos de marketing e das marcas. Ele reclamou que há muitos criadores no mercado.

Esse relato inicial parece mais um caso de planejamento financeiro (ou falta). Sendo assim, indicamos o perfil da nossa Gomber especialista em economia Dirlene Silva. Lá você encontra como fazer uma reserva de emergência, dicas de investimento e de planejamento financeiro.

Agora voltando para o lado do mercado de trabalho, é importante ressaltar que mesmo um creator que teve rendimento estável por quase 10 anos, não ficou imune à volatilidade da creator economy. Há milhões de posts pelo LinkedIn e sites especializados que falam do crescimento do mercado. Toda vez que sai alguma projeção nova, nós mesmos tratamos de trazer para o Além da Influência. E de fato, esse conjunto de mercados continua crescendo. Mesmo assim, a gente precisa ter consciência que o aumento do investimento em um setor, não significa a distribuição desse rendimento entre quem está dentro.

A solução é procurar novos trabalhos?

O creator anônimo contou que conhece pessoas que conseguiram outros empregos e que estão com dificuldades. Mesmo assim, tentam se virar. Também disse que conhece pessoas que estão procurando trabalho e outras que tiveram que vender suas casas e voltar a morar com os pais.

Qual é o problema segundo esse creator?

O problema é a quantidade de plataformas que é preciso estar presente, porque o engajamento é tudo. Não basta ter um público e gerar números. Segundo o creator, todo mundo quer ser criador de conteúdo, como consequência as pessoas aceitam firmar parcerias no modelo “conteúdo gerado pelo usuário” (UGC), por valores baixos, com isso as marcas preferem apostar nesse modelo do que investir em algo maior, o que torna a concorrência insustentável.

Isso de fato tem mexido com mercado. No início do ano passado, as marcas estavam apostando em creators menores com públicos segmentados, os chamados micro e nano influenciadores. Essa classe de criadores de conteúdo apresentavam taxa de conversão mais alta quando comparados com grandes influencers. Com o tempo, a estratégia de apostar nos menores ficou saturada e as marcas resolveram apostar em dois grupos paralelos à classe de influenciadores. De um lado temos os UGCs, que são aqueles que são “usuários comuns” e que amam certas marcas. Portanto, as parcerias são mais baratas, muitas vezes em formato de permuta. O outro grupo são os EGCs, que são os colaboradores de uma marca ou empresa, que além de oferecer um conteúdo mais especializado (eles sabem como as coisas funcionam), também tem parcerias com um custo menor.

Para além das estratégias, a gente precisa olhar para a precarização das parcerias no marketing de influência. Por aqui, sempre aconselhamos não agarrar todas as propostas. E a gente sabe que isso pode ser tentador (cuidado com o FOMA!). Não queremos insinuar que o caso desse creator anônimo foi a perda de autenticidade, mas parece muito provável que houve uma ruptura entre seu conteúdo e o público.

Como já mencionamos, o mercado é volátil. E isso precisa estar sedimentado na cabeça de todo creator. Você não pode planejar gastos, projetos e parcerias pensando que vai sempre faturar de acordo com o mais alto valor firmado. A gente precisa se preparar para os momentos de baixa.

Lembram do nosso texto Quando foi que viramos reféns do algoritmo? Nele, falamos sobre acordar e ver que as redes sumiram. Sem dar spoiler, o texto chama atenção para nosso apego (muitas vezes inconsciente) ao algoritmo e às métricas.

O que o creator anônimo está fazendo para mudar sua condição atual?

Ele tem feito trabalhos temporários, sempre que possível, mas segue buscando um emprego em tempo integral – essa procura já chega a mais de dois anos. Ele não quer mais ser criador de conteúdo, ainda assim, continua ativo nas redes sociais, mas muito menos desde 2022.

Conclusão

A gente nunca volta à estaca zero. Então não seria diferente com esse creator. O que podemos ver é que há uma completa desilusão com a profissão que o manteve por oito anos. Aqui vão duas dicas para fecharmos essa reflexão (pelo menos por agora):

Você não precisa ser só uma coisa: recomeçar também faz parte da nossa história e isso de forma alguma pode ser tratado como algo menor na nossa vida. Você pode transitar entre carreiras e experimentar novos desafios. Se desafiar também faz parte do nosso crescimento profissional.

Tenha cuidado ao arriscar: sabia que você pode se profissionalizar como creator sem precisar abandonar sua profissão? Na verdade, aconselhamos a criar conteúdo sempre a partir da tua experiência, formação e expertise. Por isso, a classe dos business influencers vem crescendo, pois são os únicos que conseguem retroalimentar suas carreiras. Não precisam abdicar da estabilidade em busca do sucesso.

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