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Como as empresas podem repensar sua ideia de produtividade?

Sumário

Ao ampliar a definição de produtividade além das métricas convencionais, as organizações podem cultivar uma força de trabalho mais feliz e saudável para alcançar melhor desempenho.

Muitas empresas utilizam métricas tradicionais de produtividade para avaliar o valor que os funcionários trazem para a organização. Além disso, alguns gestores confiam apenas nessas avaliações para determinar promoções, aumentos salariais e bônus de desempenho. Essas métricas incluem qualidade e produtividade no trabalho, número de projetos concluídos no prazo e dentro do orçamento.

O problema está no uso exagerado, pois é problemático quando o número de horas que um funcionário trabalha é visto como uma medida de produtividade. Pegue o exemplo recente de Qu Jing, ex-chefe de relações públicas da Baidu. Depois que vídeos dela glorificando uma cultura de trabalho incessante – incluindo declarações como “não espere ter fins de semana de folga” e “mantenha seu telefone ligado 24 horas por dia, sempre pronto para responder” – foram divulgados, ela enfrentou uma intensa reação negativa, com muitos descrevendo seu estilo de gestão como tóxico. Qu acabou emitindo um pedido público de desculpas, mas mesmo assim foi demitida pela bigtech chinesa.

Qu parece ter falhado em entender que o bem-estar dos funcionários é um ponto fundamental (por vezes negligenciado) que impulsiona tanto a produtividade quanto o desempenho. Para colher os benefícios de ter trabalhadores engajados e motivados, as empresas precisam ampliar sua definição de produtividade, levando em conta a saúde mental e física de seus funcionários.

Construindo riqueza e bem-estar

Henrik Bresman, professor associado da INSEAD, tem uma pesquisa que gira em torno de projetar e liderar equipes para perseguir dois objetivos: riqueza e bem-estar. A ideia por trás disso é combinar objetivos instrumentais* (como ganhar dinheiro para a empresa) com o bem-estar físico e psicológico das pessoas dentro da organização. 

*objetivos instrumentais são objetivos que são perseguidos para conseguir outros objetivos. 

É assim que algumas das melhores empresas e líderes estão repensando a produtividade: eles não estão focando apenas na riqueza ou no bem-estar, mas em ambos. Há uma lógica por trás disso. Cada vez mais, o desempenho dos funcionários, e consequentemente da organização, depende do engajamento pleno dos indivíduos com seus colegas e com suas tarefas no trabalho. Focar apenas em métricas tradicionais de produtividade é prejudicial porque pode vir às custas do bem-estar dos funcionários. E se os funcionários tiverem dificuldade nesse aspecto, isso afetará sua produção e desempenho.

Para uma empresa ter sucesso, os funcionários precisam sentir que estão em um ambiente onde podem fazer seu melhor trabalho. Se os indivíduos estiverem sob imenso estresse ou à beira do esgotamento, seu estado mental dificilmente será sustentável. Eles podem duvidar de si mesmos e se abster de compartilhar ideias, perguntas ou preocupações com seus colegas. A colaboração também será prejudicada, pois os funcionários não se sentirão psicologicamente seguros o suficiente para se envolver com os outros, prejudicando o desempenho da empresa.

A segurança psicológica é uma crença compartilhada de que os membros da equipe podem expressar suas ideias, perguntas e preocupações sem se sentirem envergonhados ou excluídos. Isso é algo que Bresman vem pesquisando com Amy C. Edmondson, da Harvard Business School, incluindo um estudo em que analisam equipes de desenvolvimento de medicamentos de seis grandes empresas farmacêuticas. Como muitas das organizações globais de hoje, as equipes eram diversas, consistindo de pessoas de diferentes origens e com variadas especializações funcionais. Os pesquisadores descobriram que a presença de segurança psicológica não apenas melhorou o bem-estar individual, mas também otimizou o desempenho da equipe.

A colaboração entre os membros da equipe é essencial para o desempenho em organizações que estão em rápido crescimento, onde os gestores não têm todas as respostas. Os indivíduos precisam estar bem mentalmente para colocar à disposição suas habilidades e resolver problemas complexos. No entanto, se os indivíduos estiverem preocupados, seja por baixa moral, ameaça de demissões ou estresse excessivo – não conseguirão utilizar plenamente suas capacidades cognitivas e emocionais. Construir e manter um ambiente organizacional que promova a segurança psicológica e priorize o bem-estar dos funcionários é, portanto, uma peça crítica do quebra-cabeça.

Bresman não argumenta para que gestores eliminem completamente as métricas tradicionais de produtividade ou relevem certos aspectos das medidas de desempenho. Em vez disso, sugere uma mudança de uma mentalidade de “ou/ou” para uma abordagem de “ambos/e”, que abraça tanto a produtividade quanto o bem-estar. Não jogue fora algo valioso apenas por ter que considerar diferentes aspectos. As empresas ainda podem pressionar as pessoas e exigir resultados se seu desempenho deixar a desejar. Só não é interessante utilizar como única medida para determinar a produtividade.

O papel fundamental dos líderes

Os líderes desempenham um papel essencial na promoção de uma cultura de trabalho de “ambos/e”. Suponha que uma empresa use exclusivamente métricas tradicionais de produtividade para avaliar o valor dos funcionários. Nesse caso, aqueles que obtêm pontuações altas nas medidas convencionais de produtividade serão nomeados para cargos de gestão ou liderança, colocando-os em posição de moldar e impor a cultura organizacional.

No entanto, os funcionários que trabalham até tarde da noite ou superam seus colegas na entrega de resultados e eficiência não necessariamente se tornam os melhores gestores. Se os líderes estiverem apenas preocupados em impulsionar a produtividade no sentido convencional, sem levar em conta o bem-estar daqueles que gerenciam, isso pode prejudicar o desempenho geral da organização.

Para garantir que as pessoas certas estejam no comando, as empresas poderiam considerar incluir o bem-estar mental dos membros de sua equipe como um KPI gerencial. Elas também devem adotar uma abordagem cuidadosa e criteriosa em relação às promoções. Isso significa não simplesmente promover os melhores desempenhos com base nas noções convencionais de produtividade. Em vez disso, as organizações também devem avaliar valores e habilidades que não são tão facilmente quantificáveis, mas que podem contribuir significativamente para a construção da segurança psicológica e para o aumento da produtividade.

No trabalho de Bresman com Deborah Ancona, da MIT Sloan School of Management, os pesquisadores determinaram que as habilidades de interpretação são uma das capacidades críticas que os líderes eficazes devem possuir. Indivíduos que são fortes na interpretação estão abertos a novas tendências e informações, gostam de aprender com os outros e conseguem criar ordem a partir da incerteza. Eles percebem que melhores métodos podem vir de fora e são capazes de buscar novas informações e integrá-las em uma estrutura coesa que ajuda os membros da equipe a entender o próximo passo.

Líderes com fortes habilidades de interpretação sabem que, para cultivar uma equipe produtiva que produz bons resultados para a organização, os membros da equipe devem ser capazes de se engajar plenamente com suas capacidades no trabalho. Eles entendem que, quando líderes e organizações realmente se importam com o bem-estar de seus trabalhadores, podem esperar uma melhoria nos resultados instrumentais. Importante, eles reconhecem o que é necessário para criar esse ambiente e podem agir em conformidade.

Bem-estar como indicador de produtividade

É desnecessário dizer que o bem-estar dos indivíduos impactará seu desempenho no trabalho. No entanto, algumas organizações têm sido lentas em considerar isso como um marcador de produtividade. Talvez pensem que é mais difícil de medir do que outros resultados mais facilmente avaliáveis e quantificáveis ou porque não compreendem sua importância.

Ao mudar de uma mentalidade de “ou/ou” para uma abordagem de “ambos/e”, as organizações podem fazer melhores progressos para alcançar os objetivos duais de riqueza e bem-estar. Se bem executado, isso pode não apenas resultar em uma força de trabalho mais feliz e saudável, mas também melhorar o desempenho geral da empresa.

 

Texto traduzido e adaptado de “How Can Companies Rethink the Idea of Productivity? de Henrik Bressman publicado no Insead Knowledge.

 

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