Intitulado “Sexism, Culture, and Firm Value: Evidence from the Harvey Weinstein Scandal and the #MeToo Movement”, a pesquisa em conjunto das Universidades de Utah, Alberta, London Business School e London School of Economics, aponta que a presença de mulheres em cargos de liderança tornam o ambiente corporativo mais saudável e com maiores expectativas de lucratividade.
Os pequisadores analisaram as reações do mercado a dois eventos históricos das últimas décadas: a revelação das acusações de abuso sexual contra o produtor de filmes de Hollywood Harvey Weinstein e campanha do movimento #MeToo em 2017, para ver como eles afetaram a cultura corporativa.
O que é o #Metoo?
O movimento #MeToo é uma campanha social criada pela ativista Tarana Burke que tem como objetivo combater o assédio e a violência sexual. O movimento ganhou notoriedade em outubro de 2017, quando a atriz Alyssa Milano incentivou as vítimas de assédio e abuso sexual a usar a hashtag #MeToo nas redes sociais para compartilhar suas experiências. Isso ocorreu após as revelações das acusações de abuso sexual contra o produtor de filmes de Hollywood Harvey Weinstein. Milhares de mulheres começaram a compartilhar suas histórias, gerando uma onda de denúncias e discussões públicas sobre o assédio e a violência sexual em várias indústrias e contextos sociais.
O que diz o estudo?
“Juntos, esses eventos trouxeram rapidamente à luz a extensão em que o assédio sexual e a discriminação de gênero eram prevalentes nos negócios, ao mesmo tempo que elucidaram que tais comportamentos ultrajantes não seriam mais tolerados”, escreveram os autores.
Pode parecer óbvio que uma cultura de trabalho saudável melhora o desempenho, mas é difícil de medir, diz Lukas Roth, do Departamento de Finanças da Universidade de Alberta. “Do ponto de vista do pesquisador, é difícil examinar, porque você precisa de um choque na cultura. Olhamos para o escândalo Harvey Weinstein porque foi um choque para o mercado financeiro, um alerta de que esse tipo de comportamento realmente está acontecendo” , completa.
Para saber mais sobre cultura corporativa saudável, recomendamos o texto: Como as empresas podem repensar sua ideia de produtividade?
Logo após o escândalo Weinstein estourar no início de outubro de 2017, a atriz Alyssa Milano encorajou a disseminação da hashtag #MeToo, para chamar a atenção para a ocorrência generalizada de agressão e assédio sexual.
Roth examinou dados das principais empresas do S&P Composite 1500, uma medida do mercado de ações dos EUA , no final de outubro daquele ano, focando sua atenção em empresas com mulheres em cargos de liderança, incluindo aquelas com mulheres nos conselhos corporativos.
“Se as mulheres estão entre os cinco executivos mais bem pagos, é menos provável que uma empresa tenha uma cultura sexista — essa é a nossa principal medida”, diz Roth. Os autores perceberam que empresas com pelo menos uma mulher entre os cinco executivos mais bem pagos obtiveram retornos excedentes de 1,3% nos dias após os manchetes de Harvey Weinstein e #MeToo.
Os investidores também eram mais propensos a favorecer empresas com mulheres em cargos de liderança. As empresas, por sua vez, começaram a melhorar o equilíbrio de gênero em sua força de trabalho.
“Nossos resultados mostram que a revelação do sexismo prevalente nas corporações provocou mudanças nas atitudes dos investidores em relação ao sexismo, levando as corporações a melhorar a diversidade de gênero. Mudanças nas atitudes sociais em relação às mulheres estão filtrando nos mercados de capitais de maneira material, e mudanças nas preferências não monetárias dos investidores são um mecanismo importante pelo qual isso acontece.”
Conclusão
A pesquisa segue estudos anteriores no Reino Unido que mostraram que empresas com o maior número de mulheres em equipes executivas tinham 25% mais chances de ter lucratividade acima da média do que empresas com o menor número.
Roth diz que tudo isso é uma boa notícia porque mostra que os investidores têm um grande apetite por empresas que valorizam a diversidade de gênero e que isso pode trazer mudanças no comportamento social corporativo.
Texto editado e adaptado de “Investors value companies with female executives”, escrito por Geoff McMaster, publicado pela University of Alberta e do artigo “Sexism, Culture, and Firm Value: Evidence from the Harvey Weinstein Scandal and the #MeToo Movement” de Karl V. Lins (University of Utah), Lukas Roth (University of Alberta and ECGI), Henri Servaes (London Business School, CEPR, and ECGI), Ane Tamayo (London School of Economics and CEPR), publicado em abril de 2024.