Embora projetos na creator economy surjam constantemente, relatórios recentes mostram que a maioria deles está focada na parte visível das atividades dos creators – ou seja, na criação de conteúdo em si. Isso ainda deixa uma lacuna considerável em áreas de suporte, como monetização e gestão financeira. Os creators precisam de ferramentas financeiras especializadas, mas o setor financeiro tradicional parece não reconhecer essa necessidade.
Por que não há mais ferramentas de fintech para creators?
A primeira coisa a destacar é que a creator economy frequentemente traz necessidades financeiras únicas que os sistemas tradicionais não foram projetados para atender. Recentemente falamos aqui no blog sobre a medida da empresa de cartões Visa em classificar os creators como pequenos negócios. Para saber mais é só clicar aqui.
A renda dos creators é muitas vezes inconsistente, pois vem de diversas fontes: patrocínios, receita publicitária, pagamentos de plataformas, entre outros. Isso significa que eles enfrentam desafios em termos de gerenciamento de impostos e pagamentos internacionais vindos de diferentes países e fontes.
Ferramentas financeiras tradicionais costumam ser rígidas demais para se adaptar a essas necessidades, além de altas taxas, tornando difícil para os creators encontrarem opções adequadas no setor bancário.
Por outro lado, desenvolver ferramentas fintech especializadas para atender a esses requisitos é algo complexo, o que desacelera ainda mais esse processo.
Além disso, o nível de demanda por ferramentas financeiras mais sofisticadas na indústria dos creators ainda é incerto. Para startups de fintech, o crescimento muitas vezes está ligado ao lançamento de produtos que possam ser escalados rapidamente e tenham uma base de usuários ampla. No momento, as necessidades dos criadores podem ainda não parecer grandes o suficiente para se destacar entre outros mercados em fintech. Como resultado, atender a essa demanda não é prioridade para novas startups.
Para ter sucesso nessa área, uma empresa precisaria dedicar muito tempo e esforço para entender como os creators gerenciam seus fluxos de trabalho e renda. Nem todas estão dispostas a entrar em um campo considerado “de nicho” quando há outras possibilidades mais lucrativas disponíveis.
Por fim, outro motivo para não vermos um boom de ferramentas fintech específicas para creators é que a maior parte do foco neste setor, até agora, tem sido nas plataformas de conteúdo. Como mencionado no início, a maior parcela dos investimentos nos últimos anos foi destinada a construir plataformas de alta visibilidade onde os criadores possam produzir e compartilhar conteúdo. O objetivo óbvio era impulsionar o ecossistema dos creators como um todo, trazendo mais atenção e ajudando-o a crescer.
Como resultado, soluções focadas na gestão financeira ficaram em segundo plano por muito tempo. Elas não oferecem os resultados instantâneos e de alta tração que investidores e empresas frequentemente buscam, e, por isso, não foram priorizadas.
Fechando a lacuna
Diante de tudo o que foi abordado, a pergunta permanece: o que pode ser feito para começar a preencher essa lacuna no suporte à creator economy? A resposta mais direta é que as empresas de fintech precisam investir em como entender esse setor para além da criação de conteúdo.
Uma abordagem promissora seria a fintech colaborar com plataformas populares como YouTube, TikTok e Patreon, onde os creators passam grande parte do tempo. Ao integrar ferramentas financeiras diretamente nessas plataformas, os criadores poderiam gerenciar suas finanças em um ambiente familiar, tornando tudo muito mais simples para eles.
Outra coisa importante é que as fintechs desenvolvam ferramentas flexíveis o suficiente para lidar com a receita irregular, algo comum para os criadores. Por exemplo, um painel abrangente seria uma excelente adição, permitindo que os criadores visualizem todas as suas fontes de renda, estimem impostos e até acompanhem economias automaticamente – tudo isso em um único lugar.
Também é importante lembrar que muitos criadores não possuem qualquer formação formal em finanças ou gestão empresarial, e, por isso, seu conhecimento financeiro pode ter lacunas. Essa é outra forma pela qual as fintechs poderiam ajudar – oferecendo serviços de consultoria e educação financeira adaptados às necessidades dessa comunidade. Dicas de orçamento e serviços fiscais permitiriam que os criadores evitassem erros custosos.
Outro grande desafio a ser enfrentado é como os creators interagem com bancos tradicionais, que frequentemente relutam em oferecer empréstimos devido à renda instável dos criadores. A fintech poderia intervir aqui encontrando novas formas de avaliar a credibilidade financeira de um criador.
Por exemplo, em vez de depender de pontuações de crédito tradicionais, métricas sociais como engajamento do público nas plataformas poderiam ser consideradas. Essa abordagem daria uma visão mais precisa da estabilidade financeira de um criador e facilitaria o acesso aos produtos financeiros de que ele precisa.
Oportunidades de crescimento para fintech
Olhando para o futuro, a economia dos criadores só tende a acelerar seu desenvolvimento. Assim, a necessidade de melhores ferramentas financeiras também continuará a crescer. Com um suporte financeiro mais robusto, os criadores poderiam focar mais em seu trabalho, permitindo que a indústria floresça e alcance maior crescimento.
As empresas de fintech têm uma oportunidade em mãos: se começarem a trabalhar com os creators agora, todos poderão se beneficiar com o resultado.
Texto traduzido e adaptado de “Is Fintech Neglecting the Creator Economy?” do portal Finextra.