Eu uso muito o LinkedIn para pesquisa. De verdade. Tal qual o Google. Por exemplo: preciso saber ranking de empregabilidade por setor. Pesquiso no LinkedIn e certamente acho alguém com uma tabela organizada, explicativa, com fontes e ainda por cima acompanhada de uma análise técnica. Posso saber mais sobre a pessoa que publicou esse conteúdo, formação acadêmica, experiência, se for do meu interesse já começo a seguir ou tento me conectar. Nenhuma outra rede oferece isso.
Primeiro, é importante valorizar a característica didática do LinkedIn para justamente entender que se espera por conteúdos de valor na rede profissional.
O problema é o overpost de conteúdos genéricos que atrapalham o alcance daqueles que buscam entregar valor em suas criações. Imagine abrir o LinkedIn para dar uma olhada nas últimas novidades do mercado ou ver insights sobre sua área, mas, em poucos minutos, já ser atropelado por:
- Um post motivacional com uma história que parecia exagerada demais.
- Um carrossel ensinando “os 5 passos para o sucesso” (mais um).
- Um print de uma conversa do WhatsApp com a legenda “E foi assim que fechei um contrato de R$ 100 mil.”
- Um textão que começava com “Fui demitido hoje.”
Nada contra esses formatos, mas sinto que já vi todas essas publicações antes – muitas vezes, inclusive, dos mesmos criadores. Aposto que você já rolou o feed achando que tudo parecia uma cópia da cópia da cópia.
O problema não era a falta de conteúdo. Era justamente o oposto: o excesso.
A era do conteúdo por obrigação
Em algum momento, o LinkedIn deixou de ser um espaço para networking e troca de conhecimento e se transformou em uma linha de produção de posts. Criadores e profissionais passaram a sentir uma pressão enorme para postar todos os dias, porque o algoritmo premia a frequência. É importante lamentar que as redes sociais não são o único sistema que clama por superprodução, esse é um dilema da vida. A falta de materialização do que postamos lá, nos dá essa sensação de falta. Não há limite. Lembrando do nosso último texto (clique aqui para ler), alguém sente saudades do extinto Fotolog que só permitia uma foto por dia?
– Às vezes me pego pensando nessa época.
Situação atual
Muita gente postando sem ter algo realmente relevante a dizer.
Empresas exigem que seus funcionários sejam “embaixadores da marca” e publiquem sobre cultura organizacional, mas os posts parecem roteirizados. O EGC (Employee-Generated Content) é útil, autêntico e até necessário, tá? Foi só um exemplo. Inclusive, já escrevemos sobre isso, leia aqui.
É como se utilizassem o LinkedIn apenas como um atualizador de status. Somado a isso, muitos creators da rede postam insights “revolucionários” que, na prática, são releituras das mesmas ideias. Até histórias pessoais acabam seguindo um modelo pronto para gerar engajamento.
– Mas é formato storytelling!!!
– Espere aí, storytelling não é um formato pronto, mas um jeito de conceber e desenvolver suas histórias. Acho que isso merece um texto especial.
Se todo mundo está postando, mas ninguém está lendo com atenção, qual é o propósito?
– Talvez não haja. Em muitos momentos (da vida) só ignoramos os efeitos e continuamos fazendo o que já estamos fazendo. Não é fácil mudar. Ainda assim…
O LinkedIn ainda pode ser um lugar de qualidade?
Claro que sim. O paradoxo do excesso de conteúdo é que, quando tudo parece igual, as vozes mais autênticas acabam não se destacando.
– Mas não seria o contrário?
De fato, os poucos posts que realmente prendem a atenção são aqueles que fogem do óbvio. Uma análise bem embasada, uma experiência com algo do trabalho, estudo, contada sem exageros ou até uma provocação que gera uma discussão saudável é o que ainda mantém o conteúdo relevante. Contudo, no meio do mar de posts que são cópias genéricas apenas para “performar”, aqueles que deveriam emergir acabam afundando. Como vamos avaliar uma publicação que realmente agrega valor se ela nem chega na nossa timeline?
O LinkedIn, e qualquer outra rede social, ainda é um lugar de valor – mas a gente precisa refletir se o melhor não seria se criadores entendessem que postar menos, mas com mais intenção, não seria mais vantajoso (para todos) do que postar por obrigação.
O que podemos aprender com isso?
Se você sente que precisa postar o tempo todo, pare e reflita: o que você realmente quer comunicar?
– Ok, você sabe o que quer dizer, mas para isso precisa de 4 posts por dia?
– E as impressões?
– Prefere 500 impressões em 3 posts diferentes do que 1500 em apenas 1?
E olha que nem problematizamos a busca exacerbada por impressões em publicações
O excesso de conteúdo nas redes sociais não é um problema só do LinkedIn. A internet inteira sofre com uma enxurrada de informações – e isso é mais positivo do que negativo. Temos a sensação de que estamos sempre tentando acompanhar tudo, opinar sobre tudo, é um FOMO (Fear of Missing Out) ao extremo.
No final das contas, quem se destaca não é quem fala mais vezes – é quem fala melhor. E geralmente quem fala melhor, fala menos.
Feche o LinkedIn e pense. Da próxima vez que for postar, que seja porque tem algo a dizer.
E talvez, só talvez, dessa vez alguém realmente preste atenção.