Não poderíamos começar o ano da melhor forma, Fernanda Torres, que interpretou Eunice Paiva em “Ainda Estou Aqui” venceu o Globo de Ouro, na categoria Melhor Atriz em Drama.
A totalmente premiada atriz havia dito que não esperava ganhar o prêmio, mas ressaltou que o fato de ser uma película em português, já fazia da indicação uma grande conquista. Durante a cerimônia, o clima foi digno das competições de alto rendimento, mas sem o choro de quem perde, pois a vitória de Fernanda Torres é também uma vitória do cinema que privilegia grandes histórias e não apenas grandes orçamentos (estimativas indicam que o filme foi produzido com cerca de 8 milhões de reais).
Há muitas lições que podemos tirar dessa história, que ganhou um novo capítulo ontem, mas que continua (alô, Oscar!). Do começo: Fernanda Torres é atriz – estreou em 1979 -, as premiações foram – e são – consequências, mas não a define como artista. Um Globo de Ouro não é o resultado de 46 anos de carreira, mas sim um desdobramento.
Pode parecer hipocrisia exaltar uma premiação tão celebrada por todos e depois insinuar que seja algo secundário. O ponto é que mesmo sem a premiação, o que a atriz protagonizou é digno de aplausos e, principalmente, de salas lotadas.
A rotina anda muito acelerada. Portanto, como não temos tempo para apreciação, nossos critérios se baseiam apenas em resultados (e não estamos falando só de cinema). A vida é: ganhou? Bom. Não ganhou? Ruim.
Você leva sua vida assim?
Se não estiver no ranking dos mais influentes na sua área, se não atingiu sua meta de impressões, você avalia que o trabalho não foi bem feito? O seu norte é o que dizem um conjunto de algoritmos no qual não temos documentações de como funcionam e que mudam a cada nova tecnologia?
Em nenhum momento você deve ignorar métricas. Pelo contrário, fique sempre atento. Mas vamos nos guiar rumo a construir carreira e relevância (não necessariamente nessa ordem). E isso toma tempo. Pequeno ou grande, todo mundo já foi pequeno.
Na premiação do Globo de Ouro, a chance de vitória era de 1 para 6. Ou seja, houveram cinco “derrotadas”. Duro falar assim, né?
Nicole Kidman, que “perdeu” para Fernanda Torres, já venceu quatro Globos de Ouro e um Oscar de Melhor Atriz.
Ontem, fracassou.
Não, né?
Tanto Kidman, quanto Angelina Jolie, Tilda Swinton, Pamela Anderson, Kate Winslet fizeram trabalhos premiáveis, até porque as indicações e premiações do Globo de Ouro, Cannes, Critics Choice Awards, Oscar e afins são decisões arbitrárias, qualitativas e quase sempre questionáveis.
Vamos relembrar. Em 1999, nos frustramos por não ver Fernanda Montenegro levar o Oscar de Melhor Atriz. Hoje, sorrimos com o Globo de Ouro da filha.
Que a gente leve 2025 com aplausos, dedicação e se possível, com premiações. Pois todo mundo quer ganhar. Dia 17 de janeiro sai os indicados ao Oscar e estaremos nas trincheiras pela nossa atriz. A questão é que isso não nos define, um resultado não pode exercer tanta pressão sobre nossas vidas. Lembre-se: Fernanda Torres ganhou, mas ninguém perdeu.
Ótimo 2025!