O LinkedIn, tradicionalmente conhecido como uma plataforma voltada para networking profissional e conteúdo corporativo, está passando por mais uma transformação. Atualmente com mais de 80 milhões de usuários no Brasil, mais de 1 bilhão no mundo, a concorrência com outras redes sociais desafia a Microsoft (dona do LinkedIn) a trabalhar na rede para que ela gere lucros e conquiste ainda mais usuários.
Em assunto de vídeos, tem destaque o TikTok, que é popular em muitos países. Além dele, outras plataformas adotaram o mesmo formato de vídeos curtos, na vertical: o Reels do Instagram, o Shorts do YouTube, Snapchat, Douyin (pai do TikTok inclusive), Kuaishou, Pinterest, Bluesky entre outros.
Já para o LinkedIn, mudar a forma do consumo de conteúdo é um desafio interessante. A plataforma atualmente oferece postagem de textos curtos, artigos, imagens, vídeos, documentos (PPT, PPTX, DOC, DOCX e PDF), além de recursos como marcar eventos, postagens comemorativas, enquetes. Desde 2023 trouxe recursos interessantes de Inteligência Artificial generativa graças ao Copilot da Microsoft, possibilitando gerar imagens para os artigos, por exemplo.
Em março de 2024 a plataforma iniciou os testes com uma nova aba dedicada a vídeos, no mesmo estilo do TikTok, mas neste caso aproveitando a biblioteca já existente de vídeos já publicados. Dessa forma, um vídeo publicado numa postagem comum pelo usuário, automaticamente entra nessa aba de vídeos e figura entre as sugestões de vídeos para os usuários. Foi dada a largada para uma nova forma de engajamento, alcance, e exploração para os gurus do LinkedIn.
Vídeos como uma nova dopamina sintética
Um vídeo publicado utilizando esse novo formato pode alcançar números impressionantes de impressões. O usuário Tim Davidson (@tadavidson41) alcançou num único vídeo mais de 3 milhões e 300 mil impressões.
O número de seguidores de Tim? Cerca de 21 mil. Ou seja, uma única pessoa conseguiu alcançar mais de 3 milhões de pessoas, um engajamento de cerca de 15.614%.
Um sonho para quem depende das redes para obter renda? Depende. No mesmo vídeo o registro é de 180 curtidas, 56 comentários e nenhum compartilhamento. Aqui entra a discussão sobre a eficácia real desse tipo de conteúdo e como os profissionais podem extrair valor dessa dinâmica.
O alto número de impressões indica que o vídeo está sendo amplamente exibido nos feeds dos usuários. Aqui, fica claro que o LinkedIn está promovendo esse novo recurso, ajustando seu algoritmo para dar mais visibilidade aos vídeos curtos. No LinkedIn Brasil, a equipe do LinkedIn Notícias (página da plataforma dedicada a compartilhar notícias e informações do momento) promoveu um workshop em modelo de live ao vivo onde um dos pontos destacados foram as dicas para a gravação dos vídeos, como a influência da luz, do posicionamento da câmera etc.
A rolagem infinita tanto do feed como dessa aba vídeo, na versão mobile da plataforma, facilita o consumo rápido de conteúdo, o que aumenta as impressões, mas não necessariamente garante o engajamento do público. Engajamento aqui se traduz em capturar a atenção do usuário, manter ele no seu conteúdo e ao final conquistar uma curtida, um seguidor e até um novo cliente para seu serviço.
A discrepância entre impressões e engajamento sugere que, embora os vídeos estejam sendo vistos, eles não estão necessariamente ressoando com a audiência. Aqui é importante compreender o que são impressões e como elas diferem de outras métricas como engajamento e conversão: Impressões referem-se ao número de vezes que o conteúdo é exibido na tela de um usuário, mas não indicam interação ou interesse ativo. No seu feed, cada elemento ali gera uma impressão logo que sejam exibidos na tela. Rolou? Novos elementos e assim novas impressões.
O pulo do gato
Nesse contexto, a qualidade do conteúdo e a forma como ele é apresentado tornam-se o pulo do gato. A atenção do público é um recurso escasso, e temos que capturá-la nos primeiros segundos do vídeo. Estudos de marketing de influência destacam a importância de elementos como thumbnails atraentes e títulos chamativos para incentivar o clique e a visualização completa do conteúdo.
Uma thumbnail bem elaborada funciona como a capa de um livro, influenciando a decisão do usuário de dedicar seu tempo ao vídeo. E é bem comum ainda encontrar thumbnails geradas automaticamente que mostram a pessoa do vídeo em alguma expressão constrangedora como a boca totalmente aberta no melhor estilo de representação da pintura “O grito” de Edvard Munch.
A natureza efêmera e dinâmica dos vídeos curtos exige que a mensagem seja transmitida de forma clara e impactante em um período reduzido de tempo. Isso requer uma abordagem criativa e estratégica, onde cada segundo conta. E aqui em termos de segundos, conquistar o usuário nos primeiros segundos é o que faz com que ele siga assistindo antes do dedo rolar a tela e seu conteúdo se perder no feed. O conteúdo deve ser relevante e oferecer valor imediato ao espectador, seja por meio de insights, informações úteis ou entretenimento.
Vale tudo por curtidas?
Para influenciadores digitais, essa é uma oportunidade de ouro para expandir sua presença no LinkedIn e alcançar um público mais amplo. A plataforma, ao incorporar recursos populares de outras redes sociais, abre espaço para a produção de conteúdo mais diversificado, sendo que a aba de vídeos mistura tanto conteúdo de quem você segue na rede, como também de gente fora da bolha, potenciais conexões de networking.
O sucesso não está apenas na quantidade de impressões, mas na capacidade de converter esse alcance em interações e construção de comunidade. 3 milhões de impressões para apenas 56 comentários mostra que existe uma grande distância entre ver que o conteúdo está ali e consumir este conteúdo.
O marketing de influência no LinkedIn difere de outras plataformas devido ao seu foco profissional. Os usuários buscam conteúdo que agregue valor às suas carreiras e negócios. Vídeos de gatinhos até viralizam, pois eles garantem a dopamina do momento e aquele efeito felicidade. Mas o que prende as pessoas no LinkedIn e impede elas de irem rolar o feed do TikTok, por exemplo, é o valor das vivências profissionais, conselhos e oportunidades de aprendizado que a rede possui. Além das vagas, claro. Estamos todos “open to work”, embora alguns não usem este selo explicitamente.
Vídeos devem refletir interesse, oferecendo perspectivas únicas, compartilhando conhecimentos especializados ou discutindo tendências do setor. A autenticidade e a autoridade são elementos-chave para estabelecer confiança e credibilidade junto ao público. É por essa razão que o LinkedIn criou artigos colaborativos baseados em IA para premiar os usuários com selos dourados de “Porta vozes da comunidade”, enquanto todo quase mundo cobiça o selo azul de LinkedIn TopVoice, este que é dado pela própria equipe do LinkedIn com base no desempenho de um usuário em gerar valor.
A captura da atenção nos primeiros segundos do vídeo é um desafio que exige criatividade e conhecimento aprofundado do público-alvo. Aqui não vale ser generalista, ou até conquistará os 3 milhões, mas ficará no máximo em 56 comentários.
Técnicas como storytelling, uso de perguntas instigantes ou apresentação de dados relevantes podem ser eficazes para manter o espectador preso no seu conteúdo. A consistência na produção de conteúdo e a interação com a audiência fortalecem a relação entre o influenciador e seus seguidores.
O LinkedIn oferece um ambiente propício para discussões de alto nível e networking profissional, e os vídeos podem humanizar a comunicação, tornando as interações mais pessoais e memoráveis. Com a estratégia certa, é possível transformar impressões em oportunidades concretas, seja por meio de parcerias, convites para eventos ou reconhecimento no setor. Imagine receber um conselho em vídeo daquele influenciador favorito?
Conclusão
A evolução constante das mídias sociais exige adaptabilidade e inovação. O LinkedIn, ao incorporar elementos de plataformas como o TikTok, demonstra que mesmo redes profissionais estão em busca de formas mais dinâmicas de interação. É uma batalha pela audiência e no final os usuários que ganham.
Vivemos numa era de excesso de informação e de estímulos. Fisgar a atenção é um desafio quase homérico. Para os profissionais e influenciadores digitais, esse é um momento para explorar novas fronteiras, experimentar formatos diferentes e, acima de tudo, oferecer valor.
E claro, todo o time da Gombo já está antenado nas novidades e aproveitando tudo isso.
PS: Nenhum gatinho saltador se feriu na escrita desse artigo.